sexta-feira, 3 de junho de 2011

Sustentar o caráter absoluto da verdade

Queridos Santos;

Sábias palavras do irmão Nee sobre ser absoluto pela verdade, faço das suas palavras as minhas!

Em Cristo,

Kleydson Feio



Sustentar o caráter absoluto da verdade

Todo obreiro do Senhor deve sustentar o caráter absoluto da verdade. Isso só é possível quando o homem está livre de si mesmo. Muitos não são fiéis à verdade; são influenciados por pessoas, coisas e sentimentos pessoais. Se o homem não for fiel à verdade, irá no curso de sua obra, sacrificar a verdade de Deus pelo homem, por si mesmo ou por seus desejos. Um requisito básico do servo do Senhor é não sacrificar a verdade. Podemos sacrificar a nós mesmos e os desejos, mas a verdade, jamais. Os problemas que acontecem com muitos obreiros decorrem do relacionamento com os amigos, conhecidos íntimos e familiares. A verdade fica comprometida por causa dos amigos, familiares próximos ou parentes. Deus não pode usar tais pessoas. Se a verdade de fato for a verdade, não deve ser comprometida, seja por irmãos, parentes ou amigos íntimos. Suponhamos que o filho de um obreiro cristão manifeste o desejo de ser batizado. Se o pai perceber que essa questão está relacionada com a verdade, transmitirá o caso para os irmãos líderes da igreja e deixará que eles resolvam se o seu fiho está ou não preparado para o batismo. Mas o problema é que o cooperador imagina que o filho está pronto para o batismo e, ao fazê-lo, sacrifica o caráter absoluto da verdade. Ele foi influenciado pelo relacionamento entre pai e filho, e não é mais fiel à verdade. Se for fiel à verdade, concordará com a direção da verdade quando for revelada à igreja; não trará seus relacionamentos pessoas à situação.

Consideremos outra ilustração: Em determinado lugar, surge uma controvérsia. Alguns santos podem estar a favor de um grupo de irmãos e por-se do lado deles, e outros podem ter preferência por outro grupo de pessoas e tomar o partido delas. Em vez de sentar e avaliar o preço de ser fiéis à verdade e seguir à verdade, eles são influenciados e dominados pelas próprias emoções. Isso não significa que os irmãos não falem sobre a verdade; significa que não são fiéis a ela. Não colocaram a verdade completamente de lado; ainda têm certo cuidado com ela, no entanto, não são fiéis a ela. Ser fiel à verdade significa não permitir que nenhum sentimento pessoal ou relacionamento familiar se coloque no caminho da verdade. Nas questões espirituais, a verdade fica comprometida no momento em que os relacionamentos humanos são levados em consideração. No momento em que os relacionamentos humanos entram em questão, a palavra de Deus e os Seus mandamentos são desconsiderados pelos fatores humanos, e a verdade fica comprometida.

A Bíblia contém muitas ordenanças e mandamentos, que são de Deus, e os Seus servos precisam pregá-los e anunciá-los. Por um lado, é enfadonho considerar os que só falam, mas não praticam. Por outro, não podemos ser servos de Deus se não pudermos pregar além do que conseguimos por em prática. Isso acontece porque a verdade é absoluta. O padrão da Palavra divina não deve ser reduzido ao nível da realização pessoal. Não podemos manipular a verdade de modo algum para justificar as nossas deficiências. É isso que significa ser fiel à verdade. Temos de transcender a nós mesmos, aos sentimentos próprios e ao interesse pessoal no falar. Esse é um importante requisito para os servos do Senhor. Devemos ter cuidado para não fazer as coisas de um modo quando elas afetam outros irmãos e de outro quando dizem respeito ao cônjuge e filhos. A verdade é sempre absoluta. Deus quer que sustentemos o caráter absoluto da verdade. Se a Palavra de Deus disser algo, que assim seja, independentemente de quem esteja envolvido. Não podemos fazer exceções só por causa de alguns relacionamentos especiais. Se as fizermos, rebaixaremos o padrão da verdade de Deus. Não estou falando em dizer inverdades; estou falando em sacrificar o caráter absoluto da verdade. Temos de aprender a sustentar o caráter absoluto da verdade. Não podemos faltar com o seu caráter absoluto só porque alguém é nosso parente. Estamos aqui para seguir a verdade e não o homem, e estamos aqui para manter o caráter absoluto da verdade.

Muitas dificuldades surgem na igreja hoje porque os filhos de Deus sacrificam a verdade. Uma igreja local dividiu-se depois que um irmão disse: “Eu não tinha intenção de me separar de vocês, mas, na noite passada, aconteceu algo na igreja, e eu não fui informado. Já não me reunirei com vocês”. A verdade é absoluta. Se o afastamento do irmão estivesse certo, ele deveria ter agido assim, mesmo que tivesse sido informado da questão. De igual modo, se o afastamento do irmão estivesse errado, ele não deveria ter agido assim, ainda que não tivesse sido informado. Se ele for fiel à verdade, o simples ato de informá-lo não tem importância. Se o seu afastamento está baseado no fato de ele não ter sido informado, ele se pôs acima da verdade.

Em outro lugar, um grupo queria ter mesas separadas e partir o pão separadamente porque um irmão ficou ofendido quando fez uma pergunta na reunião e não teve resposta. Se fosse certo separar-se, ele deveria ter iniciado outra mesa muito antes. Se fosse errado separar-se, ele não deveria ter se justificado por não receber resposta para sua pergunta. É isso que significa ser fiel à verdade. Se ter mesas separadas é algo que está de acordo com a verdade, que haja mesas separadas, mesmo que os irmãos estejam unidos uns aos outros. Se ter mesas separadas é algo que não está de acordo com a verdade, que não haja mesas separadas, ainda que haja ofensas. Irmãos e irmãs, vocês já viram isso? Devemos negar todas as formas do “eu” para servir ao Senhor. Se houver orgulho, egoísmo ou o conceito de que se deve receber tratamento respeitável como condição para sustentar a palavra de Deus, nós nos colocamos acima da verdade de Deus; estamos dizendo que somos mais importantes do que a Sua verdade. Isso nos desqualifica para o Seu serviço. No serviço ao Senhor, temos de negar-nos totalmente. Se gostamos ou não do que acontece ou se nos sentimos ou não ofendidos com algo são coisas que nada têm a ver com a questão. Se algo deve ser feito de uma forma, que seja feito dessa forma, independente de como nos sentimos. Ainda que soframos muito ao fazê-lo dessa forma, temos de fazê-lo. Ainda que os outros nos maltratem, desprezem ou considerem sem valor, temos de fazê-lo. Não podemos exigir que a palavra de Deus siga a nossa direção só porque queremos seguir nessa direção. O homem é muito ousado; sempre exige que a verdade de Deus o acompanhe.

Temos de ver a glória da verdade de Deus; não podemos projetar os próprios sentimentos nela. Quando nos colocamos ao lado da verdade de Deus, não devemos considerar-nos menores do que ela; devemos considerar-nos como quem não existe. Se envolvermos o nosso “eu” ainda que um pouco, acabaremos com problemas no mesmo instante. Um irmão, que foi criticado em alguns lugares, apareceu na igreja e ficou muito feliz com os contatos que fez. Ele achava que havia sido criticado injustamente nos lugares por onde havia passado, mas, na verdade, não atentou para a verdade diante do Senhor. Ele simplesmente se impressionou com alguns irmãos. Tal irmão era muito indisciplinado na conduta. Algum tempo depois, outro irmão lhe disse: “Irmão, você é muito relaxado”, e continuou a apontar algumas coisas que o novo irmão havia feito. Isso era falar a verdade com amor. Mas, quando ouviu essas coisas, o irmão novo saiu, fazendo comentários com sentimentos de raiva: “Não é de admirar que tantas pessoas estejam contra essa igreja. Ela deve ser criticada”. Irmãos e irmãs, esse irmão não era fiel à verdade. Se tivesse sido fiel, não teria dito isso quando foi repreendido pelos outros. Uma vez que não foi fiel, mudou o tom quando foi repreendido.

Que significa ser fiel à verdade? Significa por de lado os sentimentos, ignorar os relacionamentos pessoais e não defender o “eu”. A verdade é absoluta. Sentimentos, relacionamentos, experiências e contatos pessoais não devem ser confundidos com a verdade. Uma vez que a verdade é absoluta, o que é certo é certo, e o que é errado é errado. Há um irmão que é lider em muitos lugares. Ele seguiu o nosso caminho e decidiu ser responsável pelo testemunho da igreja. Se o caminho que tomamos estiver certo, estará sempre certo; não está certo porque esse irmão o segue. Se o caminho que tomamos estiver errado, não poderá endireitar-se simplesmente porque esse irmão o segue. Se o caminho está certo ou não, isso nada tem a ver com o irmão. Mesmo que ele caia, o caminho ainda estará certo porque a verdade é absoluta. No entanto, muitas pessoas só conseguem ver esse irmão. Acham que, se ele estiver certo, o caminho que escolheu também estará, e, se estiver errado, o caminho que escolheu também estará. Os olhos dessas pessoas estão voltados para a verdade ou para a pessoa? Isso não significa que podemos ser negligentes. Nunca devemos ser negligentes; devemos sustentar o testemunho de Deus. Isso é um fato. Contudo, ao mesmo tempo, se esse caminho é ou não o certo, é algo que está baseado na verdade, e não nos homens. Acaso, quando outros cristãos pecam, não somos mais cristãos? Porventura quando outros filhos de Deus caem, não somos mais filhos de Deus? Será que quando muitos filhos de Deus perdem seu testemunho, não somos mais cristãos? Não, irmãos e irmãs, a verdade é absoluta. Ainda que muitos cristãos tenham caído, o Senhor ainda é digno de confiança, e ainda devemos confiar Nele. Ainda que muitos filhos de Deus tenham pecado, continuamos a ser Seus filhos; não deve haver mudança. Isso não significa que os filhos de Deus têm permissão para pecar, ou que os cristãos têm permissão para cair. Significa, no entanto, que a verdade é absoluta. Se é certo crer no Senhor, devemos crer Nele, mesmo quando outros não crêem. Se é certo ser cristão, devemos ser cristãos, ainda que todos os outros tenham caído. A questão não é o que os outros fazem, mas se algo é ou não a verdade. Muitas divisões na igreja, muitos problemas na obra e muitas disputas entre os obreiros cessarão quando os relacionamentos, sentimentos e problemas pessoais forem colocados de lado.

Ser fiel à verdade não é trivial. Não podemos ser indiferentes nesse sentido. Se formos relaxados nisso, seremos relaxados em tudo. Para sustentar a verdade, temos que renunciar totalmente a nós mesmos. Se não tivermos tal disposição e hábito pela verdade, teremos problemas mais cedo ou mais tarde. Há quem diga: “Eu agradeço a Deus por ter-me trazido a esta reunião. Tenho recebido muito auxílio”. Isso não significa que ele é fiel à verdade. Talvez só esteja apegado emocionalmente a este lugar. Quando algo desagradável lhe acontecer, poderá mudar de opinião e chegar à conclusão de que está no lugar errado. A verdade, no entanto, é absoluta. Se este lugar for certo, será certo; se for errado, será errado. Não pode ser certo só porque é bom para esse irmão, e errado porque não é bom para ele. Se a justificação de um lugar depende do tratamento que dá ao irmão, o irmão deve ser a coisa mais importante de todo o mundo! A verdade não é importante para ele; quem é importante é o irmão! Ele não é fiel à verdade; é daí que surgem muitos problemas. Deus requer que experimentemos disciplinas a ponto de deixar a nós mesmos e os sentimentos de lado em tudo. Pouco importa se estamos contentes ou magoados. A direção nunca deve ser afetada por sentimentos pessoais. Se Deus disser que está certo, está certo; se disser que está errado, está errado. Se disser que este caminho está certo, temos de segui-lo ainda que todos recusem a fazê-lo. Não seguimos esse caminho porque é emocionante ou determinado irmão está nele. Se este caminho estiver certo, devemos segui-lo, ainda que nenhum dos irmãos esteja nele. A verdade é absoluta, e nenhum ser humano deve influenciar-nos de forma alguma. Se usarmos o elemento da consideração humana, teremos feito com que o homem seja maior do que a verdade.

Todos os juízos são baseados na verdade, e não nos indivíduos. Toda vez que base de um juízo passa a ser do indivíduo, comprometemos o caminho de Deus e a Sua verdade. A base do juízo é a Palavra de Deus; o seu fundamento é a verdade. Devemos agir da mesma maneira, quer os outros nos tratem bem ou não. Quando enfrentamos uma situação, devemos perguntar qual é a verdade de Deus, e não quais são os nossos sentimentos. Juízos e sentimentos pessoais nunca têm lugar na obra de Deus. Se a verdade disser-nos que devemos separar-nos por completo, devemos cortar os vínculos com os melhores amigos. Talvez tenhamos comido e vivido juntos todos os dias no passado, mas quando o caráter absoluto da verdade exige separação, devemos obedecer. A afeição humana não deve ter espaço. Se a verdade decreta que não devemos separar-nos, não podemos separar-nos, ainda que discutamos uns com os outros e irritemos uns aos outros todos os dias. Se estivermos juntos simplesmente por causa de razões pessoais, não sabemos qual é a verdade, e não podemos continuar.

Irmãos e irmãs, isso é fundamental. O caminho que está à nossa frente está muito relacionado com o tratamento que recebemos do Senhor. Se nos concentramos em quanto somos grandes e importantes, a verdade será sacrificada. Para sustentar a verdade de Deus, o nosso “eu” tem de sumir; devemos mantê-lo à distância. Todos temos o próprio temperamento e sentimentos. Não podemos mudar a verdade de Deus por causa disso. Nenhum ministro de Deus pode sacrificar ou comprometer a verdade divina pelo bem-estar de si mesmo. Se a considerarmos como algo vil, não teremos futuro espiritual com Deus. Quando um juiz preside um tribunal, deve ser fiel à lei. Um crime deve ser declarado crime, e um inocente deve ser declarado inocente. O juiz não pode declarar inocente um criminoso só porque é seu irmão ou amigo. Se fizer isso, haverá desordem. A lei é absoluta, e os sentimentos pessoais não podem ser levados em consideração. Seria terrível se um réu fosse julgado culpado só porque, coincidentemente, o juiz é seu inimigo. O juiz deve sustentar a lei. Devemos crer em Deus, servi-Lo e manter a Sua verdade. Os sentimentos pessoais não podem intervir. Espero que lembremos que todos os sentimentos pessoais precisam ser negados. O Senhor precisa lidar com todos nós. Todos devemos dizer-Lhe: “Senhor, não sou nada, mas a Tua verdade é absoluta”. Se fizermos isso, não haverá mais disputas ou problemas na obra. Uma grande vantagem que os cooperadores terão, se sustentarem o caráter absoluto da verdade de Deus, é a grande liberdade entre si mesmos no falar e no trabalhar. As coisas serão feitas como devem ser feitas, e não haverá necessidade de preocupar-se com as reações dos outros. Se todos virmos o caráter absoluto da verdade, só nos preocuparemos com uma coisa: se algo está ou não de acordo com a vontade e decisão de Deus; se estiver, não teremos medo. Mas, se não formos fiéis à verdade, será difícil continuar. Quando surgir alguma coisa, consideraremos a reação do irmão Wang, a opinião do irmão Chow e a atitude do irmão Liu. Uma vez que os três têm temperamentos diferentes, teremos de ceder um pouco aqui e ali. Isso é terrível. A verdade será sacrificada. Se é assim que fazemos as coisas, não podemos dizer muita coisa ou tomar muitas decisões por temer ofender os homens. Problemas surgirão em nosso meio. Se um grupo de homens só se preocupasse com a verdade de Deus e rejeitasse totalmente todos os métodos humanos, seria, de fato, um corpo abençoado de homens. Se firmemente rejeitasse a manipulação e a diplomacia humana, sem ceder ou amenizar alguma coisa por meio das mãos humanas, mas fazendo tudo estritamente de acordo com a vontade de Deus, poderíamos estar certos de que esse grupo estaria repleto da bênção de Deus. Se pudermos tomar o caminho absoluto da verdade entre os cooperadores, poderemos dizer o que devemos e fazer o que devemos. Se não pudermos, haverá muita consideração, diplomacia e mudança, e a igreja deixará de ser a igreja.

Consideremos essa questão com consciência diante do Senhor. Trata-se de algo muito importante e sério. Lembremos que não há lugar nenhum para sentimentos e opiniões na obra do Senhor. Ainda que nossas opiniões possam influenciar positivamente os outros para que recebam a verdade, devemos mantê-las fora da obra. Podemos influenciar uma pessoa para que receba a verdade convidando-a para jantar, mas isso é errado. A verdade é absoluta. Por causa da bondade do nosso coração, talvez queiramos fazer algo para sustentar a verdade, mas ela não requer nenhuma ajuda humana para sustentá-la. Ela tem a própria posição, autoridade e poder, e não precisa da ajuda humana para sustentá-la. Não precisamos prestar-lhe ajuda. Não devemos temer que alguém rejeite a verdade divina; só precisamos aprender a honrá-la, seguir o caminho dela e não a comprometer de forma alguma.

Watchman Nee, O Caráter do Obreiro do Senhor (São Paulo: Editora Árvore da Vida, 2008), pp. 193-202.