Doze conselhos importantes para aqueles que desejam ser líderes na casa de Deus
Por: Watchman Nee
01. Aprendam a amar os outros, a pensar no bem deles, a ter cuidado por eles, a negar-se a si próprios por causa deles e a dar a eles tudo o que têm. Se alguém não consegue negar-se a si próprio em beneficio dos outros, ser-lhe-á impossível conduzir alguém no caminho espiritual. Aprendam a dar aos outros o que você tem, ainda que se sinta como se nada tivesse. Então o Senhor começará a derramar-lhe a Sua bênção.
02. A força interior de um líder deveria equivaler à sua força exterior. Esforços em demasia, avanços desnecessários, inquietações, apertos, tensões, falta no transbordar, planos humanos e avanços na frente do Senhor, são todas as coisas que não devem ocorrer. Se alguém está cheio de abundância em seu interior, tudo o que emana dele é como o fluir de correntes de águas, e não existem esforços demasiados de sua parte. É preciso ser de fato um homem espiritual, e não simplesmente se comportar como um.
03. Ao fazer a obra de Deus aprenda a ouvir os outros. O ensinamento de Atos 15 consiste em ouvir, isto é, ouvir o ponto de vista de outros irmãos porque o Espírito Santo poderá falar por meio deles. Seja cuidadoso, pois ao recusar ouvir a voz dos irmãos, você poderá estar deixando de ouvir a voz do Espírito Santo. Todos aqueles envolvidos em liderança devem assentar-se para ouvi-los. Dê a eles oportunidades ilimitadas de falar. Seja gentil, seja alguém quebrantado e esteja pronto para ouvir.
04. O problema de muito líderes é não estarem quebrantados. Pode ser que tenham ouvido muito, a respeito de serem "quebrantados" porem não possuem revelação dessa verdade. Se alguém está quebrantado, não tentará chegar as suas próprias decisões no que toca a questões importantes ou aos ensinamentos, não dirá que é capaz de compreender as pessoas ou de fazer coisas, não ousará tomar para si a autoridade ou impor a sua própria autoridade sobre os outros, nem, aventurar-se-á a criticar os irmãos ou tratá-los com presunção. Um irmão quebrantado não tentará auto defender-se, nem se remoer por algo que ficou para traz.
05. Não deve existir nas reuniões nenhuma tensão, tampouco na Igreja. Com respeito às coisas da Igreja aprenda a não fazer tudo você mesmo. Distribua as tarefas entre os outros e os leve a aprender a usar suas próprias capacidades de executar. Em primeiro lugar, você deve expor-lhes resumidamente os princípios fundamentais a seguir e depois se certificar de que agiram de acordo. É um erro fazer você fazer muita coisa. Evite também aparecer demais na reunião, caso contrário os irmãos poderão ter a sensação de que você está fazendo tudo sozinho. Aprenda a ter confiança nos irmãos e a distribuí-la entre eles.
06. O Espírito de Deus não pode ser coagido na Igreja. Você precisa ser submisso a Ele, pois, caso contrário, quando Ele cessar de ungi-lo a Igreja se sentirá cansada ou até mesmo enfadada. Se o meu espírito estiver forte em Deus, ele alcançará e tomará a audiência em dez minutos; se estiver fraco não adiantará gritar palavras estrondosas ou gastar um tempo mais longo, o que inclusive com certeza será prejudicial.
07. Ao pregar uma mensagem, não a faça demasiadamente longa ou trabalhada, caso contrário o espírito dos santos sentir-se-á enfadado. Não inclua pensamentos superficiais ou afirmações rasteiras no conteúdo da mensagem; evite exemplos infantis, bem como raciocínios passíveis de serem considerados pelas pessoas como infantis. Aprenda concluir o ponto alto da mensagem dentro de um período de meia hora. Não imagine que, o fato de estar gostando de sua própria mensagem, significa que as suas palavras são necessariamente de Deus.
08. Uma tentação com que freqüentemente nos deparamos numa reunião de oração é querer liberar uma mensagem ou falar por tempo demasiado. Uma reunião de oração deve ser consagrada a oração, muito falatório levará à sensação, de sentir-se pesado, com o que a reunião se tornará um fracasso.
09. Os obreiros precisam aprender muito, antes de assumirem uma posição onde tenham de lidar com problemas ou com pessoas. Com um aprendizado inadequado, um conhecimento insuficiente, um quebrantamento incompleto e um juízo não digno de confiança serão incompetentes para lidar com os outros. Não tire conclusões precipitadas; mesmo quando se está prestes a fazer algo se deve fazê-lo com temor e tremor. Nunca trate com leviandade as coisas espirituais. Pondere-as no coração.
10. Aprenda a não confiar unicamente em seus próprios juízos. Aquilo que consideras correto pode ser errado e aquilo que consideras errado pode ser correto. Se alguém está determinado a aprender com humildade, levará, com certeza, alguns poucos anos para terminar de fazê-lo. Portanto, por enquanto, você não deve confiar demasiadamente em si mesmo ou estar muito seguro a respeito, do seu modo de pensar.
11. É perigoso para as pessoas da igreja seguirem as suas decisões antes de você ter atingido o estado de maturidade. O Senhor operará em você para tratar seus pensamentos e para quebrantá-lo antes que você possa compreender a vontade de Deus e ser definitivamente 'autoridade de Deus' - A autoridade se baseia no conhecimento da vontade de Deus. Onde não estiver sendo manifestado a vontade e o propósito de Deus, ali não há autoridade de Deus.
12. A capacidade de um servo de Deus com certeza será expandida porém pelo mesmo Deus que o capacitou. Descanse em Deus, ame-o de todo o coração. Jesus disse "sem mim nada podereis fazer". A autoridade necessária para o desempenho do ministério é fruto de nosso relacionamento. Nunca olhe para dentro de você mesmo, pois isso poderia desanimá-lo, porém, jamais abra mão da:
- Intimidade com Deus
- O conselho dos sábios que Deus colocou na igreja
"Não fostes vós que me escolhestes, porém eu vos escolhi a vós e vos designei para que vades e deis frutos e o vosso fruto permaneça afim de que tudo o pedirdes ao Pai em meu nome Ele vos conceda" (João 15:16)
Extraído do livro "O Testemunho de Watchman Nee" e são partes de uma carta escrita em 10/03/1950 Dois anos antes do início do período de vinte anos em que permaneceu preso pelo Regime Comunista Chinês até dormir no Senhor em 1972.
"Esta página tem como objetivo Ministrar a Revelação (MT11:25;16:17;1Co2:10) da palavra, e propósito de Deus (Jo1:1; 6:63) aos buscadores de Cristo (Jo4:28-30). É destinado a todos os que amam a Unidade do Corpo de Cristo e anelam alcançar o pleno conhecimento da Verdade (1TM2:4). Busca estabelcer laços de comunhão fraterna em Cristo."
terça-feira, 16 de junho de 2009
sexta-feira, 12 de junho de 2009
EUNUCO
"Porque há eunucos que nasceram assim; e há eunucos que pelos homens foram feitos tais; e outros há que a si mesmos se fizeram eunucos por causa do reino dos céus. Quem pode aceitar isso, aceite-o." (Mt. 19:12)
O Evangelho segundo Mateus, no versículo acima transcritos, faz menção a uma figura pouco considerada, em aplicação prática, pelos cristãos de hoje: o eunuco.
Ao se referir ao gênero, o Senhor identificou três espécies de eunucos: A primeira refere-se àquele que já nasce eunuco, ou seja, no aspecto físico, é um portador de anomalia genética, que por mais que pareça anormal ou constrangedora é alheia à sua vontade, pelo que com o tempo e a convivência cômoda com a situação, passa a ser aceitável e considerada normal, pelo próprio paciente, que mesmo não desejando, aceita.
A segunda espécie é o eunuco que pelos homens foram feitos. Aqui já se trata de alguém que mesmo tendo nascido com saúde física normal, foi vítima de mutilação violenta praticada por outros. Neste caso, além de se tratar de uma situação indesejada, é também resistida. Uma vez quebrada a resistência pela utilização de métodos humanos de convencimento, o paciente passa a aceitar e conviver com a situação, em razão de um interesse, e dela passa a usufruir.
A terceira espécie é aquela em que o próprio paciente se fez eunuco de maneira volitiva e por um motivo prazeroso. Neste caso, existe uma causa que lhe dá prazer em ser eunuco: o anelo de servir por amor. Isto é fruto de um sentimento muito nobre e o único aceitável para justificar a conduta do paciente: O amor pelo Rei e o respeito à sua autoridade.
De fato o Senhor utilizou figuras simples, conhecidas e de significado muito prático para nos ensinar. Porém, que lição espiritual poderíamos tirar da figura do Eunuco? O que isto representa no contexto da economia de Deus?
A história dos povos antigos é pródiga em exemplos onde mostra a relevância dos serviços de um eunuco e sua importância diante do Rei. Assim, um eunuco, era alguém que ocupava um cargo em determinado reino, cuidando de interesses pessoais do Rei. Para ser investido neste cargo era necessário merecer a total confiança do Rei, pois tinha por atribuição cuidar, especialmente, da pessoa da Rainha, a esposa do rei. Por assim ser, rei nenhum confiava a sua rainha a homem viril, pelo que aquele que desejasse cuidar da rainha, por amor ao Rei, devia se tornar um eunuco, ou seja, abrir mão de sua masculinidade. Isso implicava passar por um processo de transformação física, como forma de perder a virilidade e afastar qualquer possibilidade de toque pessoal na esposa do Rei. Desta maneira, o eunuco, mesmo sendo um homem, agia e cuidava da rainha como se homem não fosse. Assim, além da confiança do Rei, da rainha, e de todo o reino, o eunuco era sempre muito bem recompensado.
A Bíblia, no livro de Ester, nos mostra um exemplo destes. Vê-se ali que o Rei Assuero confiou a um eunuco todo o cuidado com a futura rainha. Tinha total acesso à sua recâmara, inclusive para cuidar-lhe do banho com as especiarias aromáticas da corte. Cap. 2: 3, 8 e 15: “Ponha o rei comissários em todas as províncias do seu reino, que reúnam todas as moças virgens, de boa aparência e formosura, na cidade de Susã, na casa das mulheres, sob as vistas de Hegai, eunuco do rei, guarda das mulheres, e dêem-se-lhes os seus ungüentos. Em se divulgando, pois, o mandado do rei e a sua lei, ao serem ajuntadas muitas moças na cidade de Susã, sob as vistas de Hegai, levaram também Ester à casa do Rei, sob os cuidados de Hegai, guarda das mulheres. Ester filha de Abiail, tio de Mordecai, que a tomara por filha, quando lhe chegou a vez de ir ao rei, nada pediu além do que disse Hegai, eunuco do rei, guarda das mulheres. E Ester alcançou favor de todos quantos a viam”
Também o livro de Atos, faz referência a um certo eunuco, oficial de Candace, rainha etíope, que foi evangelizado por Filipe. Era, sem dúvida, alguém de destaque naquele reino, por oficiar junto à rainha, cuidando, inclusive, dos seus tesouros. Também o Apóstolo Paulo, ao falar de casamento, deixou claro ter feito sua opção de se tornar eunuco, por amor do reino. “Quero que todos os homens sejam tais como também eu sou; no entanto, cada um tem de Deus o seu dom; um, na verdade, de um modo; outro, de outro. E aos solteiros e viúvos digo que lhes seria bom se permanecessem no estado em que também eu vivo. Caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado”. (I Co. 7:7-9)
Olhando para a figura do eunuco, da rainha e do rei, fica claro o propósito do Senhor, ao falar sobre estes. O Senhor é, sem dúvida, o Rei do Reino dos Céus. A Igreja é a sua noiva (Ester) que deve ser bem cuidada por eunucos de confiança para ser entregue como esposa, (Rainha) na condição de virgem pura. Virgem Pura é sempre a noiva que não foi tocada pelo homem. Assim, o Senhor nos confiou a Igreja para que dela cuidássemos. Porém, não permite que nela toquemos com a nossa naturalidade. O preparo da noiva deve ser com banhos aromáticos agradáveis ao noivo. Isso indica que a igreja deve ser cuidada com o aroma suave do amor fraternal, que emana do amor de Deus, e defumada com o mais precioso incenso: O perfume de Cristo.
Ser eunuco espiritual, para servir segundo o Novo Testamento, é ser santificado para, exclusivamente, por amor ao rei e ao reino, cuidar da noiva do Senhor sem contaminá-la com o toque do homem natural. Ao cuidar da Igreja (noiva) precisamos passar pela verdadeira emasculação que consiste em sermos transformados pela renovação da mente e separados para um sacerdócio real. Isto implica em abrir mão de nossos interesses, nossas virtudes, nossa capacidade, nossas tradições, nossa disposição pessoal e nossas qualidades naturais, próprias do velho homem para, seguindo o amor, agir sob a orientação do espírito, único arômata agradável ao noivo.
Alguns de nós, cristãos, nem mesmo se contentam com o fato de terem sido escolhidos para tal mister; ainda se lhe dão um título pomposo como forma de garantir o destaque entre os demais. Enquanto isto, o Senhor deseja que nós, seus eunucos, sejamos vistos apenas como “irmãos” e que ajamos, tão somente, como “eunucos” por amor do reino. Um eunuco não põe a mão na rainha. Um cristão genuíno não põe a mão na igreja. Assim como a Rainha é do Rei, a Igreja é do Senhor!
No sacerdócio de Arão, vimos que seus filhos, Nadabe e Abiú, juntamente com o pai, foram escolhidos. Deus queria que eles agissem como eunucos, cuidando, por amor e em santidade, da congregação de Israel de quem Deus se considerava “esposo”. Ao cuidar, aqueles sacerdotes deviam se comportar como um eunuco, e não introduzir no serviço qualquer coisa natural (estranha a Deus).
Embora Arão tivesse abraçado o sacerdócio como Deus queria, e agido como eunuco por amor do reino, seus filhos se comportaram como os eunucos da primeira espécie: aqueles que assim nasceram. Estavam ali oficiando mais por hábito familiar do que por amor ao ofício. Assim resolveram oferecer fogo estranho e morreram. Foi, sem dúvida, uma exclusão definitiva do serviço sacerdotal feita por Deus, pois não lhe cheirou bem, aquele fogo. Não foram diferentes, também, os filhos do sacerdote Eli, Hofni e Fineias. Hoje, quantos de nós ainda nem experimentamos uma conversão genuína, mais por uma tradição de família nos dizemos cristãos e ainda, em alguns casos, até assumimos o governo e os serviços da igreja, conduzindo-a com o nosso toque pessoal! Isso, é queimar incenso com o nosso próprio fogo! Que o Senhor tenha misericórdia e nos faça eunucos por amor.
No sacerdócio Romano, ressurge a figura da segunda espécie de eunuco: aqueles a quem os homens assim o fizeram. Não há comparável violência à do voto do celibato romano (castidade). Ali o noviço sacerdote, mesmo reagindo e não querendo, é convencido por força da imposição do ato ordenatório, e acaba concordando em fazê-lo ainda que às ocultas o descumpra. Na mesma direção têm andado muitos cristãos, que convencidos por razões diversas a serem condutores do rebanho, ao invés de agir como eunucos: mansos, longânimos, amorosos, misericordiosos e confiáveis, comportam-se como Pedro no Getsêmani e usam da espada para decepar a orelha dos Malcos. Disciplinam os irmãos e lhes impõem pesados fardos, além da extorsão patrimonial feita em nome do que chamam de doutrina da prosperidade. A exemplo do sacerdócio Romano, também as suas credencias eclesiásticas, são assinadas por homens após terem sido, para isto, convencidos. Assim aprenderam e assim fazem! Projeta-se mais quem mais arrecada ou quem mais realiza em obras. Confundem presunção com vocação e arrogância com poder do alto. E o mais grave: misturam Igreja com obra, e as medem com a mesma medida e pesam-nas na mesma balança. Nem se dá conta de que são eunucos feitos pelos homens, e não por amor ao reino.
Rogo ao Senhor que sare as nossas orelhas, como sarou a de Malco. Que santifique o nosso ouvido, como fez com Arão, com o sangue da oferta da consagração, para ouvir somente a palavra de Deus e aprender a discernir o falar do eunuco; que abra os nossos olhos, como fez ao cego de nascença para ver somente o que vem em nome do Senhor; que nos ilumine e nos leve, também a nós, a sermos eunucos por amor do reino. Só o amor opera a emasculação interior (de coração), por meio do agir do espírito, neutralizando assim, as obras da carne.
Nesta linha, sendo o objeto da economia de Deus a edificação da Igreja como o Corpo de Cristo, situação em que Ele se encontrará habitando e funcionando plenamente em cada cristão (eunuco), podemos dizer ser indispensável aplicarmos a figura do eunuco ao nosso viver espiritual, como única maneira de cuidarmos da noiva, sem importuná-la. Se não estivermos na condição de eunucos do Senhor (por amor do reino) Ele não nos confiará os cuidados da Rainha. Se fora desta condição agirmos, estaremos consumando um desafio atrevido, e nos expondo à mais veemente reprovação; isso, se não recebermos a repreensão que receberam Nadabe e Abiuú e os filhos de Eli.
Aos eunucos da terceira espécie, aqueles que assim se fizeram por amor do reino, Deus tem garantido uma recompensa. Esta foi registrada por Isaías no capítulo 56 de seu livro: “ Não fale o estrangeiro que se houver chegado ao SENHOR, dizendo: O SENHOR, com efeito, me separará do seu povo; nem tampouco diga o eunuco: Eis que eu sou uma árvore seca. Porque assim diz o SENHOR: Aos eunucos que guardam os meus sábados, escolhem aquilo que me agrada e abraçam a minha aliança, darei a minha casa e dentro dos meus muros, um memorial e um nome melhor do que filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará”. Vv. 3 – 5.
Parece claro que o eunuco da primeira espécie se refere àquele que age seguindo a natureza em que nasceu, a carne. O da segunda espécie, é alguém que não nasceu assim, porém foi persuadido e induzido, na mente, a tomar tal atitude. É, pois, aquele que age de acordo com a alma. Estas duas espécies certamente não agradam a Deus, pois não edificam a sua Igreja. A terceira espécie, portanto, guarda perfeita conformidade com a vontade de Deus, nas palavras do Apóstolo Paulo: “Todos os vossos atos sejam feitos com amor”. 1a. Co 16:14.
Vale à pena ser eunuco por amor do reino.
Senhor, não Ti ofendas comigo, nem me tenha por inconveniente se ainda me dirijo a Ti. Pois, como Jacó em Peniel, não Ti deixarei ir, nem sairei da Tua presença, até que me concedas a graça de ser um eunuco por amor do reino. Esta é a minha oração a Ti, Senhor Jesus! Ei de repeti-la, de coração puro, até que me atendas!
No amor do Senhor.
Irmão João
O Evangelho segundo Mateus, no versículo acima transcritos, faz menção a uma figura pouco considerada, em aplicação prática, pelos cristãos de hoje: o eunuco.
Ao se referir ao gênero, o Senhor identificou três espécies de eunucos: A primeira refere-se àquele que já nasce eunuco, ou seja, no aspecto físico, é um portador de anomalia genética, que por mais que pareça anormal ou constrangedora é alheia à sua vontade, pelo que com o tempo e a convivência cômoda com a situação, passa a ser aceitável e considerada normal, pelo próprio paciente, que mesmo não desejando, aceita.
A segunda espécie é o eunuco que pelos homens foram feitos. Aqui já se trata de alguém que mesmo tendo nascido com saúde física normal, foi vítima de mutilação violenta praticada por outros. Neste caso, além de se tratar de uma situação indesejada, é também resistida. Uma vez quebrada a resistência pela utilização de métodos humanos de convencimento, o paciente passa a aceitar e conviver com a situação, em razão de um interesse, e dela passa a usufruir.
A terceira espécie é aquela em que o próprio paciente se fez eunuco de maneira volitiva e por um motivo prazeroso. Neste caso, existe uma causa que lhe dá prazer em ser eunuco: o anelo de servir por amor. Isto é fruto de um sentimento muito nobre e o único aceitável para justificar a conduta do paciente: O amor pelo Rei e o respeito à sua autoridade.
De fato o Senhor utilizou figuras simples, conhecidas e de significado muito prático para nos ensinar. Porém, que lição espiritual poderíamos tirar da figura do Eunuco? O que isto representa no contexto da economia de Deus?
A história dos povos antigos é pródiga em exemplos onde mostra a relevância dos serviços de um eunuco e sua importância diante do Rei. Assim, um eunuco, era alguém que ocupava um cargo em determinado reino, cuidando de interesses pessoais do Rei. Para ser investido neste cargo era necessário merecer a total confiança do Rei, pois tinha por atribuição cuidar, especialmente, da pessoa da Rainha, a esposa do rei. Por assim ser, rei nenhum confiava a sua rainha a homem viril, pelo que aquele que desejasse cuidar da rainha, por amor ao Rei, devia se tornar um eunuco, ou seja, abrir mão de sua masculinidade. Isso implicava passar por um processo de transformação física, como forma de perder a virilidade e afastar qualquer possibilidade de toque pessoal na esposa do Rei. Desta maneira, o eunuco, mesmo sendo um homem, agia e cuidava da rainha como se homem não fosse. Assim, além da confiança do Rei, da rainha, e de todo o reino, o eunuco era sempre muito bem recompensado.
A Bíblia, no livro de Ester, nos mostra um exemplo destes. Vê-se ali que o Rei Assuero confiou a um eunuco todo o cuidado com a futura rainha. Tinha total acesso à sua recâmara, inclusive para cuidar-lhe do banho com as especiarias aromáticas da corte. Cap. 2: 3, 8 e 15: “Ponha o rei comissários em todas as províncias do seu reino, que reúnam todas as moças virgens, de boa aparência e formosura, na cidade de Susã, na casa das mulheres, sob as vistas de Hegai, eunuco do rei, guarda das mulheres, e dêem-se-lhes os seus ungüentos. Em se divulgando, pois, o mandado do rei e a sua lei, ao serem ajuntadas muitas moças na cidade de Susã, sob as vistas de Hegai, levaram também Ester à casa do Rei, sob os cuidados de Hegai, guarda das mulheres. Ester filha de Abiail, tio de Mordecai, que a tomara por filha, quando lhe chegou a vez de ir ao rei, nada pediu além do que disse Hegai, eunuco do rei, guarda das mulheres. E Ester alcançou favor de todos quantos a viam”
Também o livro de Atos, faz referência a um certo eunuco, oficial de Candace, rainha etíope, que foi evangelizado por Filipe. Era, sem dúvida, alguém de destaque naquele reino, por oficiar junto à rainha, cuidando, inclusive, dos seus tesouros. Também o Apóstolo Paulo, ao falar de casamento, deixou claro ter feito sua opção de se tornar eunuco, por amor do reino. “Quero que todos os homens sejam tais como também eu sou; no entanto, cada um tem de Deus o seu dom; um, na verdade, de um modo; outro, de outro. E aos solteiros e viúvos digo que lhes seria bom se permanecessem no estado em que também eu vivo. Caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado”. (I Co. 7:7-9)
Olhando para a figura do eunuco, da rainha e do rei, fica claro o propósito do Senhor, ao falar sobre estes. O Senhor é, sem dúvida, o Rei do Reino dos Céus. A Igreja é a sua noiva (Ester) que deve ser bem cuidada por eunucos de confiança para ser entregue como esposa, (Rainha) na condição de virgem pura. Virgem Pura é sempre a noiva que não foi tocada pelo homem. Assim, o Senhor nos confiou a Igreja para que dela cuidássemos. Porém, não permite que nela toquemos com a nossa naturalidade. O preparo da noiva deve ser com banhos aromáticos agradáveis ao noivo. Isso indica que a igreja deve ser cuidada com o aroma suave do amor fraternal, que emana do amor de Deus, e defumada com o mais precioso incenso: O perfume de Cristo.
Ser eunuco espiritual, para servir segundo o Novo Testamento, é ser santificado para, exclusivamente, por amor ao rei e ao reino, cuidar da noiva do Senhor sem contaminá-la com o toque do homem natural. Ao cuidar da Igreja (noiva) precisamos passar pela verdadeira emasculação que consiste em sermos transformados pela renovação da mente e separados para um sacerdócio real. Isto implica em abrir mão de nossos interesses, nossas virtudes, nossa capacidade, nossas tradições, nossa disposição pessoal e nossas qualidades naturais, próprias do velho homem para, seguindo o amor, agir sob a orientação do espírito, único arômata agradável ao noivo.
Alguns de nós, cristãos, nem mesmo se contentam com o fato de terem sido escolhidos para tal mister; ainda se lhe dão um título pomposo como forma de garantir o destaque entre os demais. Enquanto isto, o Senhor deseja que nós, seus eunucos, sejamos vistos apenas como “irmãos” e que ajamos, tão somente, como “eunucos” por amor do reino. Um eunuco não põe a mão na rainha. Um cristão genuíno não põe a mão na igreja. Assim como a Rainha é do Rei, a Igreja é do Senhor!
No sacerdócio de Arão, vimos que seus filhos, Nadabe e Abiú, juntamente com o pai, foram escolhidos. Deus queria que eles agissem como eunucos, cuidando, por amor e em santidade, da congregação de Israel de quem Deus se considerava “esposo”. Ao cuidar, aqueles sacerdotes deviam se comportar como um eunuco, e não introduzir no serviço qualquer coisa natural (estranha a Deus).
Embora Arão tivesse abraçado o sacerdócio como Deus queria, e agido como eunuco por amor do reino, seus filhos se comportaram como os eunucos da primeira espécie: aqueles que assim nasceram. Estavam ali oficiando mais por hábito familiar do que por amor ao ofício. Assim resolveram oferecer fogo estranho e morreram. Foi, sem dúvida, uma exclusão definitiva do serviço sacerdotal feita por Deus, pois não lhe cheirou bem, aquele fogo. Não foram diferentes, também, os filhos do sacerdote Eli, Hofni e Fineias. Hoje, quantos de nós ainda nem experimentamos uma conversão genuína, mais por uma tradição de família nos dizemos cristãos e ainda, em alguns casos, até assumimos o governo e os serviços da igreja, conduzindo-a com o nosso toque pessoal! Isso, é queimar incenso com o nosso próprio fogo! Que o Senhor tenha misericórdia e nos faça eunucos por amor.
No sacerdócio Romano, ressurge a figura da segunda espécie de eunuco: aqueles a quem os homens assim o fizeram. Não há comparável violência à do voto do celibato romano (castidade). Ali o noviço sacerdote, mesmo reagindo e não querendo, é convencido por força da imposição do ato ordenatório, e acaba concordando em fazê-lo ainda que às ocultas o descumpra. Na mesma direção têm andado muitos cristãos, que convencidos por razões diversas a serem condutores do rebanho, ao invés de agir como eunucos: mansos, longânimos, amorosos, misericordiosos e confiáveis, comportam-se como Pedro no Getsêmani e usam da espada para decepar a orelha dos Malcos. Disciplinam os irmãos e lhes impõem pesados fardos, além da extorsão patrimonial feita em nome do que chamam de doutrina da prosperidade. A exemplo do sacerdócio Romano, também as suas credencias eclesiásticas, são assinadas por homens após terem sido, para isto, convencidos. Assim aprenderam e assim fazem! Projeta-se mais quem mais arrecada ou quem mais realiza em obras. Confundem presunção com vocação e arrogância com poder do alto. E o mais grave: misturam Igreja com obra, e as medem com a mesma medida e pesam-nas na mesma balança. Nem se dá conta de que são eunucos feitos pelos homens, e não por amor ao reino.
Rogo ao Senhor que sare as nossas orelhas, como sarou a de Malco. Que santifique o nosso ouvido, como fez com Arão, com o sangue da oferta da consagração, para ouvir somente a palavra de Deus e aprender a discernir o falar do eunuco; que abra os nossos olhos, como fez ao cego de nascença para ver somente o que vem em nome do Senhor; que nos ilumine e nos leve, também a nós, a sermos eunucos por amor do reino. Só o amor opera a emasculação interior (de coração), por meio do agir do espírito, neutralizando assim, as obras da carne.
Nesta linha, sendo o objeto da economia de Deus a edificação da Igreja como o Corpo de Cristo, situação em que Ele se encontrará habitando e funcionando plenamente em cada cristão (eunuco), podemos dizer ser indispensável aplicarmos a figura do eunuco ao nosso viver espiritual, como única maneira de cuidarmos da noiva, sem importuná-la. Se não estivermos na condição de eunucos do Senhor (por amor do reino) Ele não nos confiará os cuidados da Rainha. Se fora desta condição agirmos, estaremos consumando um desafio atrevido, e nos expondo à mais veemente reprovação; isso, se não recebermos a repreensão que receberam Nadabe e Abiuú e os filhos de Eli.
Aos eunucos da terceira espécie, aqueles que assim se fizeram por amor do reino, Deus tem garantido uma recompensa. Esta foi registrada por Isaías no capítulo 56 de seu livro: “ Não fale o estrangeiro que se houver chegado ao SENHOR, dizendo: O SENHOR, com efeito, me separará do seu povo; nem tampouco diga o eunuco: Eis que eu sou uma árvore seca. Porque assim diz o SENHOR: Aos eunucos que guardam os meus sábados, escolhem aquilo que me agrada e abraçam a minha aliança, darei a minha casa e dentro dos meus muros, um memorial e um nome melhor do que filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará”. Vv. 3 – 5.
Parece claro que o eunuco da primeira espécie se refere àquele que age seguindo a natureza em que nasceu, a carne. O da segunda espécie, é alguém que não nasceu assim, porém foi persuadido e induzido, na mente, a tomar tal atitude. É, pois, aquele que age de acordo com a alma. Estas duas espécies certamente não agradam a Deus, pois não edificam a sua Igreja. A terceira espécie, portanto, guarda perfeita conformidade com a vontade de Deus, nas palavras do Apóstolo Paulo: “Todos os vossos atos sejam feitos com amor”. 1a. Co 16:14.
Vale à pena ser eunuco por amor do reino.
Senhor, não Ti ofendas comigo, nem me tenha por inconveniente se ainda me dirijo a Ti. Pois, como Jacó em Peniel, não Ti deixarei ir, nem sairei da Tua presença, até que me concedas a graça de ser um eunuco por amor do reino. Esta é a minha oração a Ti, Senhor Jesus! Ei de repeti-la, de coração puro, até que me atendas!
No amor do Senhor.
Irmão João
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