ESTUDO-VIDA DE ROMANOS
MENSAGEM 59
A PRÁTICA DA VIDA DO CORPO
Nesta mensagem, consideraremos a prática da vida do Corpo como é mostrada nos capítulos finais de Romanos.
FILIAÇÃO PARA O CORPO
Vimos que devemos servir a Deus no evangelho de Seu Filho (1:9). Este evangelho é um evangelho de filiação. Filiação inclui designação, ressurreição, justificação, santificação, transformação, conformação, glorificação, e manifestação. Estamos atualmente passando pelo processo de designação, isto é, estamos sendo designados filhos de Deus pelo poder de ressurreição. Filiação é para o Corpo. Para sermos membros do Corpo de Cristo, devemos ser filhos de Deus.
Vimos que, num sentido particular e real, o capítulo doze é a continuação direta do capítulo oito, sendo os capítulos nove a onze um parêntese referente à escolha da graça. O capítulo oito revela que estamos sendo transformados à imagem do Filho de Deus (v. 29). Essa conformação nos qualifica para a prática da vida do Corpo.
A vida do Corpo não é simplesmente uma questão de crentes reunindo-se. Muitos grupos foram formados com o propósito de ter a vida do Corpo. O resultado, contudo, foi fracasso. Esses grupos não perceberam que a vida do Corpo depende da filiação, que provém da designação. Se queremos ter a prática da vida do Corpo, devemos ser transformados segundo o poder de ressurreição.
O CORPO APRESENTADO, A ALMA TRANSFORMADA E O ESPÍRITO FERVOROSO
No capítulo doze, Paulo menciona o corpo, a alma e o espírito. No versículo 1, ele diz: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis os vossos corpos por sacrifício, vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” O nosso corpo deve ser apresentado ao Senhor para o Seu propósito de ter um Corpo. Alguém pode ter um coração para a vida do Corpo, mas se não apresentar seu corpo, ele não é para a vida do Corpo de um modo prático. Você pode se preocupar com as reuniões, mas que isso adianta de seu corpo fica em casa? Se deixarmos de apresentar nosso corpo ao Senhor para a vida da igreja, não podemos ter uma vida prática de reuniões. Se disser que tem um coração pelas reuniões da igreja, você precisa perguntar a si mesmo se tem apresentado seu corpo ao Senhor para as reuniões. Onde está o seu corpo na hora das reuniões? O corpo é que contém o nosso ser, pois o espírito está dentro da alma e a alma dentro do corpo. Devemos apresentar esse “recipiente” ao Senhor por causa do Seu Corpo.
O versículo 2 fala da mente, que é a principal parte da alma: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da mente.” Quando nossa mente for renovada, nossa alma será transformada. Assim, nosso corpo precisa ser apresentado e nossa alma precisa ser transformada.
Nesse versículo, Paulo nos roga que não sejamos conformados a este século. O mundo, o sistema de Satanás, é um universo composto de muitas eras. O século dezenove foi uma era e o século vinte é outra era. Realmente, têm havido eras distintas dentro do próprio século vinte. O presente século é uma parte do sistema mundano de Satanás. Esta era não apenas inclui o mundo secular, mas também o mundo religioso. Se nos conformamos à religião de hoje, seremos inúteis no que diz respeito à prática da vida do Corpo.
Para Paulo, ser conformado ao presente século, em sua época era, principalmente, uma questão de ser conformado ao judaísmo. O judaísmo foi um sério obstáculo à prática da vida do Corpo no primeiro século. Assim, como o judaísmo foi parte do século do tempo de Paulo, também o cristianismo como uma religião organizada é parte da era de hoje. Conformando-se ao cristianismo organizado, você será conformado a este século. Ao invés de sermos conformados a este século, precisamos ser transformados pela renovação da nossa mente.
Em 12:11, Paulo fala do espírito; ele nos diz para sermos “fervorosos no espírito” (IBB – Ver.). O nosso espírito deve esta queimando, isto é, ele deve esta quente e queimando. Se tivermos um Corpo apresentado, uma alma em processo de transformação e um espírito fervoroso, estaremos aptos a praticar a vida do Corpo de um modo adequado.
FALAR E PRATICAR
Muitos falam sobre a vida do Corpo de Romanos 12 em verdadeira prática da vida do Corpo. Por exemplo, alguns viram que no Corpo de Cristo somos “membros uns dos outros” (12:5). Contudo, eles não podem mencionar a quais membro estão especificamente relacionados. Assim, o falar deles sobre ser membros uns dos outros é mera conversa. Não estamos aqui para falar sobre a vida do Corpo; estamos aqui para praticar a vida do Corpo.
O ensinamento em Romanos referente à vida do Corpo está no capítulo doze, mas a prática está nos capítulos catorze, quinze e dezesseis. Estes capítulos tratam de problemas práticos que ocorrem na vida da igreja. Ao considerarmos como Paulo aborda esses problemas, podemos aprender alguma coisa relacionada à prática diária da vida do Corpo.
RECEBER OS CRENTES
O capítulo doze é importante em relação à doutrina da vida do Corpo, assim como o capítulo catorze é importante em relação à prática da vida do Corpo. No capítulo catorze, Paulo aborda o problema de receber os crentes cujas opiniões e práticas se diferem das nossas. Em 14:1, Paulo diz: “Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões.” Então Paulo prossegue dando dois exemplos de questões sobre as quais os crentes podem ter pontos de vista diferentes. O primeiro exemplo refere-se ao comer: “Um crê que tudo pode comer, mas o débil come legumes” (v.2). O Segundo refere-se a dias: “Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias” (v.5). Estas duas questões são exemplos de muitas coisas que têm dividido os cristãos. Tome o batismo como exemplo. Alguns insistem na imersão, enquanto outros insistem na aspersão. Se tivermos a prática adequada da vida do Corpo, receberemos todos os verdadeiros crentes em Cristo, quer pratiquem imersão ou aspersão.
Alguns dizem que nós na restauração do Senhor somos estreitos. Contudo, queremos receber todos os tipos de cristãos. Recebemos aqueles que praticam imersão e aqueles que praticam aspersão. Quem, então, são os estreitos – aqueles na restauração do Senhor ou aqueles que aceitam ter comunhão somente com os que reúnem exigências especiais relacionadas à doutrina e prática?
As divisões entre os cristãos vêm das diferenças sobre doutrina e prática. Por exemplo, os crentes têm sido divididos sobre coisas tais o como uso do véu, lavar os pés e observância dos domingo ou do sábado. Esse fato dever levar-nos novamente a Romanos 14, onde Paulo nos institui a receber aqueles que têm fé em Cristo e não julga-los segundo questões secundárias. Se alguém vier a nós com uma opinião diferente a respeito de certa questão, ainda devemos recebê-lo como um irmão no Senhor. Como Paulo diz em 15:17 “Portanto acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus.”
A importância de receber os crentes é ilustrada por uma experiência que tivemos no começo da vida da igreja em Los Angeles. Três grupos cristãos desejavam reunir-se conosco na vida da igreja. Um grupo tinha um antecedente pentecostal e outro grupo tinha um antecedente de ensinamento fundamentalista na Bíblia. Os Quando eu soube de seu desejo e entusiasmo sobre a idéia de reunirem-se conosco, lembrei-lhes de que através dos séculos os cristãos têm sido divididos por suas opiniões sobre doutrina e práticas. Além disso, lhes disse que se quisessem reunir-se para a vida da igreja segundo romanos 14, eles teriam de abandonar suas opiniões e receber os crentes genuínos em Cristo, não importando quão diferentes fossem, tanto em doutrina como em prática. Eles concordaram em deixar de lado suas diferenças e em reunir-se na unidade para a vida da igreja. No local de reunião, penduramos algumas faixas. Uma dizia “Variedade versus Uniformidade”, outra “Unidade na Variedade” e outra “Todos Um em Cristo”. Entretanto, após um curto período, alguns de formação pentecostal começaram a insistir na prática de falar em línguas e tocar pandeiro nas reuniões. Os de formação fundamentalista não toleraram isso e se recusaram a prosseguir com aquilo. Eu pedi àqueles que se opunham ao falar em línguas e tocar pandeiros que suportassem aqueles que eram favoráveis a essas coisas. Contudo, eles se recusaram a fazê-lo. Então pedi aos que aprovavam essas práticas para entender o sentimento dos outros. Eles também se recusaram, insistindo que nada havia de errado em agir assim. Finalmente, devido à incapacidade de ambos os lados em aceitar crentes com diferentes doutrinas e práticas, esses grupos não conseguiram se reunir na unidade para a prática da vida da igreja.
UMA ATITUDE GERAL
O Senhor pode testificar a nosso favor que em nossa prática da vida da igreja temos sido gerais, recebendo todos os diferentes tipos de crentes. Por exemplo: nós não impedimos os santos de falar em línguas. Não obstante, somos acusados de ser limitados. Na verdade, os limitados são os das denominações, pois eles não recebem todos os diversos tipos de cristãos. Através dos anos que temos estado em Los Angeles, nunca rejeitamos um crente genuíno em Cristo. Além do mais, não temos regulado os outros. Ao contrário, temos aprendido simplesmente a ministrar vida aos que vêm.
Em Romanos 14, a atitude de Paulo foi muito geral. Doutrinariamente falando, Paulo sabia que os crentes eram livres para comer tanto carne como vegetais. Mais ele não entrou na questão de comer como um método doutrinário. Ao invés disso, ele expressou uma atitude generalizada a todos os crentes; ele não desprezou os que comem somente vegetais nem aqueles que comem todas as coisas. A sua atitude foi a mesma com respeito a guardar dias.
Para ter a prática adequada para a vida do Corpo, devemos ter tal atitude geral. Não devemos impor uma prática particular aos outros nem devemos nos opor a determinada prática. Tome como exemplo louvar o Senhor em voz alta. Alguns podem se opor a isso e condená-lo como sendo uma desordem, enquanto outros que concordam podem querer impor tal prática aos outros. Ambas as atitudes estão erradas. Se preferimos o silêncio nas reuniões, não devemos impor nossa opinião aos outros. Da mesma forma, se preferimos gritar, não devemos impô-lo a quem quer que seja. O mesmo é verdade com relação ao orar-ler. Se alguns querem praticar o orar-ler, eles devem ser livres para fazê-lo. Mas se outros não aceitam essa prática, não deveria ser-lhes imposta.
Na vida da igreja devemos ser gerais, capazes de receber todos os crentes genuínos. Contudo, não é fácil aprender essa lição, porque todos nós queremos que os outros sejam como nós somos. Não mais exijamos dos outros nem queiramos que eles mudem seu modo por nossa causa. Antes, tenhamos unidade na variedade e variedade sem conformidade. Embora possa haver tal variedade, nós ainda somos um em Cristo.
DIFERENÇAS ENTRE AS IGREJAS
Pode haver diferença não apenas entre os crentes numa igreja, mas também entre as igrejas locais. Por exemplo, a igreja numa cidade pode não praticar o orar-ler, mas a igreja em outra cidade pode não praticá-lo. Se você visitar uma igreja que difere em prática da igreja em de sua cidade, não tente corrigi-la ou mudar alguma coisa. Onde quer que esteja, você deve ser simplesmente um com a igreja naquele lugar. Enquanto ela for uma igreja local, você precisa prosseguir com ela sem impor ou opor. Admito que é fácil falar sobre isso, mas é difícil praticá-lo. No entanto, todos nós devemos estar desejosos de aprender essa lição. Então teremos não somente a doutrina do Corpo de Romanos 12, mas também a prática da vida do Corpo em Romanos 14.
UMA QUESTÃO DO ESPÍRITO
Romanos 14:17 diz: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça e paz e alegria no Espírito Santo”. De acordo com este versículo, o reino de Deus é uma questão do Espírito. Se temos justiça, paz e alegria no Espírito Santo, não devemos estar preocupados com diferenças de doutrina ou prática.
O ASPECTO LOCAL DA IGREJA
Romanos 16:1 diz: “Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja em Cencréia.” Este versículo um segundo aspecto da praticabilidade da vida do Corpo: a questão da igreja local. Se quisermos ter a vida do Corpo de uma maneira prática, devemos não apenas receber os crentes, mas também atentar para a igreja na localidade. De acordo com Romanos 16, a praticabilidade da vida do Corpo consiste no aspecto local da igreja. Este capítulo fala não só da igreja local, a igreja em Cencréia, mas também das igrejas. No versículo 4, Paulo faz menção das igrejas dos gentios e no versículo 16, das igrejas de Cristo.
MOSTRANDO HOSPITALIDADE À IGREJA
No versículo 23, Paulo diz: “Saúda-vos Gaio, meu hospedeiro e de toda a igreja.” Aqui Paulo cita um irmão que proveu hospitalidade a toda a igreja. Obviamente, Paulo está falando da igreja local, não da igreja universal. É importante que Paulo enfatize que Gaio foi o hospedeiro de toda a igreja, não de todos os santos. Há uma diferença entre mostrar hospitalidade à igreja e mostrar hospitalidade aos santos, pois podemos importar-nos com os santos sem importar-nos com a igreja. Ao praticarmos hospitalidade a igreja deve estar em nossa consciência e pensamento. Ao estender a hospitalidade aos outro, que pensamento você tem? Você mantém o pensamento de que está praticando aos santos ou à igreja? Se tiver o pensamento adequado, perceberá que sua hospitalidade não é simplesmente a determinados santos, mas a toda a igreja.
A IGREJA NA CASA
No versículo 5, Paulo saúda a igreja que está na casa de Priscila e Áquila. Usando este versículo como base, alguns dizem que a igreja numa casa é diferente da igreja numa cidade. Contudo, se considerar essa questão cuidadosamente em seu contexto, você verá que a igreja na casa de Priscila e Áquila era, na verdade, a igreja na cidade de Roma. A igreja em Roma tinha suas reuniões na casa de Priscila e Áquila.
Se quisermos ter a prática adequado da vida do Corpo hoje, devemos ser gerais em receber todos os tipos de crentes. Desde que uma pessoa creia genuinamente no Senhor Jesus, devemos recebê-la, mesmo que sua opinião possa diferir das nossas com respeito a prática ou doutrina. Além disso, precisamos estar numa igreja local e honrar o caráter local da igreja. Como agradeço ao Senhor pelo capítulo dezesseis! Neste capítulo, o Espírito Santo mostra claramente que para prática da vida do Corpo, precisamos ser a igreja local. Onde quer que estejamos, devemos estar na igreja naquela cidade.